Pensamentos espoletados por vós
Sda:
“A certa altura da minha vida tive que parar para pedir ajuda. Não aceitava a minha natureza, andava em conflito permanente comigo e, consequentemente com os outros. (…) A pessoa que me ajudou disse-me, um dia, na cara, que eu não acreditava que queria aceitar-me. Porquê? Porque eu não acreditava em mim, não acreditava naquilo que queria dizer a mim mesmo! Foi aqui que tudo começou a mudar, e a mudar a uma velocidade que hoje ainda tenho dificuldade em perceber como foi possível!”
“(…) não acredito que a tua auto-estima esteja destruída.
Ela existe e está só abalada.
Estás com muitas dúvidas acerca de ti. Mas posso dizer-te que poderás avançar mais se aceitares que és como és.
Perceber como és e aceitares, esse é o segredo. A haver mudança ela só acontece depois da aceitação.”
Este fim-de-semana estive a pensar no que o Sda e a Tessa disseram e ao longo destes últimos dias fui escrevendo uma ideias…
…sobre quem sou!
Coloco-me a questão “quem sou eu?”, mas eu sei quem sou. O problema é que eu sempre me senti dual. Tenho duas Menina Rabiscos que vivem em mim e através das quais vivo. Não entendam com isto que tenho dupla personalidade. : ) Não é o caso!! : ) : )
Existem em mim duas Meninas Rabiscos. Uma é a Menina Rabisco Real. É a mais verdadeira. A que se ocupa de todos os sentimentos. É a minha essência. A outra é a Menina Rabisco Desejada. É quem eu sempre julguei que era e é quem eu sempre desejei/desejo ser.
A menina real é uma menina frágil, dolorida, que se sente espezinhada, que está combalida e cheia de feridas por sarar.
Esta Menina Rabisco é a mulher mais forte do mundo. Consegue tudo o que quer. E aqui surge um problema…a Menina Rabisco Frágil existe porque eu não consegui tudo o que quis. Ou não consegui coisas importantes para mim, da maneira como quis tê-las. Não consegui o amor do meu pai e o amor do meu “ex-amor” da forma como sempre imaginei. São dois homens que gostam de mim, mas à sua maneira, não à minha.
A Menina Rabisco Forte surgiu porque eu sempre quis ocultar esta dor e este desamor do mundo. Nunca quis que ninguém soubesse o que eu sentia. No fundo acho que sentia vergonha de dar a ver aos outros que pensava que o meu pai não me amava. Primeiro, porque isso o iria magoar. Depois porque as pessoas o negariam. Depois porque eu seria ridicularizada. As pessoas diriam “Não sejas tola! Que parvoíce!! É claro que o teu pai te ama. Ele é teu pai!” Depois porque isso evidenciava que eu era diferente das outras crianças, porque as outras crianças tinham pais carinhosos.
Mais tarde a Menina Rabisco Forte ganhou raízes profundas porque queria mostrar ao meu pai que conseguia “viver sem ele” e apliquei-me nos estudos. No fundo utilizei os estudos como forma de me evidenciar perante o meu pai. Na realidade estava à procura de elogios e do seu orgulho em mim. (Consegui-o!)
Perante isto, hoje constato que a Menina Forte domina a minha vida profissional e social e que a Menina Frágil comanda a minha vida emocional, mas há uma que vai ter que dominar toda a minha vida. Adivinham qual vai ser??
Foto: Two hearts, one blue by O Caritas
…sobre o “Desajustamento entre o ‘querer’ e o ‘crer’”.
Tens Razão Sda: quero mudar, mas ainda não creio no que digo a mim própria. No fundo de mim, ainda não acredito que o meu pai me ama. Ainda não acredito realmente que consiga amar de outra forma ou outra pessoa. Ainda não acredito que consiga mudar.
Conscientemente sei que o meu pai me ama. Inconscientemente a menina frágil ainda não acredita nisso. E por esse motivo…continua a lutar por provas de amor que o consciente já vê, mas que o inconsciente teima em não acreditar que existem.
Em relação ao ex-amor ainda há passos grandes a dar. Conscientemente ainda me projecto na vida com ele. Conscientemente quero deixar de me ver com ele, mas ainda não acredito.
Quando digo a mim própria que este amor não tem futuro. Não acredito nas minhas palavras. E todos os dias enfrento uma batalha comigo própria para não o contactar, para não iniciar um novo ciclo.
Depois de pensar sobre isto percebi porque resisto tanto em mudar.
Resisto porque ainda sinto que, aceitar o amor do meu pai como ele é, e aceitar que a minha vida pode ser vivida sem o meu ex-amor, é DESISTIR. Para uma pessoa que sempre encarou o amor como uma luta…desistir é como uma DERROTA. Ainda sinto que deixar de lutar pelo amor dos dois é desistir do amor. E isso dói muito.
A questão é aceitar esta derrota?! Para viver outras vitórias?!
Julgo que a solução tem duas vertentes muito interligadas. Por um lado, aceitar o amor do meu pai da forma como ele se expressa. Acreditar que ele me ama. Por outro, reformular o meu conceito de amor. Reformular a forma como vivo o amor.
Conscientemente sei que o amor não é, nem deve ser esta luta dolorosa. Amor não é dor. O amor não nos deve fazer sentir mal. Quando causa dor, alguma coisa está errada.
Inconscientemente ainda acredito na ideia romântica [e perfeitamente estúpida!] de que quanto mais se sofre mais se ama.
Julgo que quando conseguir aceitar estas duas ideias, deixarei de sentir necessidade de lutar pelo amor de qualquer pessoa. Terei a capacidade de escolher para amar, pessoas que me podem amar.
Nessa altura deixarei de tolerar pessoas que me “desamam”. Terei a capacidade de escolher quem esteja disponível para amar da forma como eu desejo ser amada. Terei a capacidade de deixar de lado o amor-dor. Nessa altura, terei a capacidade de me amar. Nessa altura, a Menina Rabisco Frágil deixará de ter razões para existir.
Tenho que me dar autorização para desistir de lutar. Não faz sentido lutar pelo que já tenho. Sim, porque eu já tenho o amor do meu pai.
E agora?? Como é que eu passo a acreditar no que escrevi?? Como passo a acreditar no que sei que é bom para mim?? Como passo a acreditar no que digo a mim própria??
…sobre a mágoa e a tristeza
“Não conheço bem a tua situação com o teu pai, mas vejo que falas dele com certa mágoa e tristeza. Não compreendes porque ele não te pode amar da maneira que tu precisas.”
Para mim, o facto de falar do meu pai já é um sinal de que a mágoa está a desaparecer. Noutra altura, a mágoa era bastante forte e eu nem comigo própria falava sobre ela. Aos poucos fui percebendo os porquês do comportamento do meu pai e fui falando sobre eles comigo própria. Hoje já consigo falar disto a alguns amigos.
O meu pai não me amava da forma como eu desejava devido a problemas seus (devido à morte da minha avó, quando era muito novo) e devido à forma como foi educado. Os meus avós sempre foram bons pais, mas também foram pouco afectuosos. O meu pai ficou com essa mágoa e, inconscientemente, repetiu a situação comigo e com a minha irmã. No fundo, a falta de afectividade que descreveste em relação à tua mãe, foi o que eu vivi com o meu pai. De resto, não tenho mais queixas nenhumas dele. E sei que me ama porque sempre esteve ao meu lado em tudo. Foi graças a ele que estudei, foi ele que me ajudou economicamente num momento de dificuldade…e hoje sei que é esta é a sua forma de mostrar que me ama.
Hoje a minha relação diária com o meu pai já é pacífica. Nunca foi tão boa. O facto de eu , aqui, falar muito dela, tem a ver com o processo de compreensão e aceitação do formato da nossa relação. Falo dela porque ela influenciou uma grande parte do que sou e porque nela está a chave para avançar para uma nova fase.
Como tu fizeste um dia, ao encarares a Natasha pequenina, eu estou agora a encarar a Menina Rabisco. E este blog é uma ferramenta para isso mesmo. Registo os meus pensamentos, da forma mais sincera que posso e sei, para que possa recuar e andar para a frente. Às vezes, ler o que escrevi no passado, faz-me compreendo tudo de outra forma. Esta é a minha ferramenta na procura da minha estabilidade emocional.
Se quiseres saber um pouco mais sobre a minha relação com o meu pai lê o post Calcanhar de Aquiles II ou "A Segunda Grande Saída da Concha".
2 comentários:
Menina Rabisco,
A este post tenho muito a dizer, de tal maneira que nem sei como o transcrever para estas linhas…Uma coisa te posso desde já dizer que lá porque além não te ama como tu queres não quer dizer que não te ame com todo o seu ser! Digo isto sobretudo em relação ao teu pai, tal como tu própria tens noção a infância dele não foi das mais fáceis e inconscientemente transmitiu isso na tua infância, sem que tenha tido a consciência de estar a transmitir os meus erros que recebeu na infância dele!
Em relação ao amor, que para mim é a questão mais controversa e mais difícil de definir, por isso irei tentar escrever sobre aquilo que já vivi, ou melhor aquilo que já senti em relação ao amor…Por vezes estamos de tal maneira “empenhados” no amor que nos esquecemos de que estamos a sofrer, ou ate mesmo que nos estamos a colocar para segundo plano, mas tal como em tudo sofrer também faz parte do amor, como faz parte da vida…O mais difícil nestes casos é nós conseguirmos verificar se está a ser prejudicial para nós ou não! E aqui tu já levas alguns pontos de avanço, já conseguiste verificar que “esse amor” era prejudicial para ti, o resto terás de dar tempo ao tempo, acredita que comigo foi a melhor maneira de sarar essas feridas e depois recordar, somente, o que esse amor teve de bom e o que tu queres para ti. Desta maneira acabaras por desenvolver uma menina rabisco mais consciente daquilo que quer para si e ate onde poderá ir um novo amor…Chama-se a isto também crescer, eu sei que não é das melhores maneiras, mas a vida tem destas coisas, dá-nos algo menos bom para que possamos ter algo melhor!
Acredita que poderia aqui ficar a escrever, escrever sem parar…Mas por hoje deixo-te aqui um grande beijinho e continuo a dizer cada dia que passa estás mais consciente de ti e do que queres para ti!
Sda e Joshua,
os meninos fizeram-me soltar uma lagriminha!! Não de tristeza. Uma lagriminha de alegria, porque me compreenderam tão bem. E eu que sempre pensei que ninguém me poderia compreender. Nós julgamos sempre que os nossos sentimentos são únicos, que ninguém sabe o que nós sentimos...mas vocês sabem!!! :) [Esclarecimento: eu sou uma chorona. Choro sempre que me emociono. Choro de alegria, tristeza, por tudo e por nada!]
SdA, quando falaste na ideia do "conto de fadas" não a achei ridícula. Sendo uma romântica...é claro que concordo contigo, mas tenho focalizado o meu romatismo para o lado errado.
Quando li "acredito que há uma ou mais pessoas neste mundo dispostas a amarem-nos da forma como idealizámos que alguém o fizesse. A questão é nós sermos capaz de deixar que isso aconteça. Ou seja, enquanto andarmos preocupados em lutar loucamente por alguém que já percebemos que não nos ama ou não nos quer amar "daquela maneira", podemos estar a deixar passar ao largo uma pessoa que estava disposta a entregar-se a tudo aquilo que sonhámos!" lembrei-me do meu amigo que me tem vindo a rodear desde há uns tempos (já vos falei dele!). Talvez não lhe esteja a dar uma hipótese. Talvez não me esteja a dar uma hipótese a mim.
Não sei. Tenho que pensar sobre isso. :)
Joshua,
eu também me sinto mais consciente...e estou feliz por estar assim.:) :)
Obrigada aos dois!!
Beijinhos.
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