sexta-feira, julho 21, 2006

Calcanhar de Aquiles II ou "A Segunda Grande Saída da Concha"

Quero reformular o que escrevi de manhã (ontem) sobre o meu calcanhar de Aquiles.

O meu calcanhar de Aquiles é...
...o modo como aprendi / sei a amar.

Toda a minha vida procurei o amor do meu pai. Hoje compreendo que ele me ama. Ele é, aliás, a pessoa que mais me ajuda em tempos de dificuldade financeira e instabilidade de emprego. No entanto, devido à sua própria educação, não aprendeu a expressar os seus sentimentos. Não sabe dizer gosto de ti. A sua maneira de me mostrar que me ama reside no apoio financeiro, nas conversas banais do dia-a-dia, em querer a minha companhia nas coisas que gosta de fazer, em querer que eu o ouça falar dos documentários (que eu acho chatíssimos) sobre animais. O seu amor está nas pequenas coisas do dia-a-dia.

Hoje, adulta, compreendo isto, mas toda a minha infância, adolescência e juventude, entendi o seu afastamento como uma rejeição. De modo inconsciente, pensei que não era digna do seu amor. Pensava que eu era ou tinha feito alguma coisa para não ser merecedora do seu amor. Por isto sempre me senti infeliz, insegura, dorida, não merecedora do amor de ninguém.

O reverso da medalha, desta falta de amor, foi levar-me a procurá-lo exaustivamente e de modo contínuo. Como o meu pai não me dava o seu amor, eu tentava conquistá-lo e era sempre rejeitada, porque ele não sabe amar da forma como eu gostaria. Durante anos busquei demonstrações de afecto nos locais e acções erradas. Achava que ele apenas me podia mostrar o seu amor se me dissesse "Amo-te, filhota!", ou se me fizesse sentir amada através de actos de carinho. Nessa altura, não vi o seu apoio como um acto de amor e, como não o via, andei sempre atrás de um "amor impossível". Corri sempre atrás das demonstrações de afecto que eu queria, que eu fantasiava. Persegui, durante anos, um homem inacessível a nível emocional.

Para mim o amor é isto! Foi desta forma que eu aprendi a amar. É este modo de amar que eu reproduzo, continuamente, nas minhas relações afectivas com outros homens. É isto que eu, ao fim de dez anos, continuo a fazer em relação ao Meu Amor.

O Meu Amor, assim como o meu pai, também é um homem emocionalmente inacessível. É um homem que, devido aos seus próprios problemas internos, tem dificuldade em se sentir íntimo de alguém, tem dificuldade em gostar de alguém, tem dificuldade em envolver-se. Hoje compreendo isto. Há dois meses atrás não via as coisas desta forma. Há dois meses atrás não percebia a sua postura perante a vida e perante mim. Desde há 10 anos que achava que o podia resolver os seus problemas. Achava que o podia "salvar".

Por este ser o único modo de amar que conheço, escolhi uma pessoa com quem podia repetir os mesmos actos, a mesma dinâmica de amor que tinha com o meu pai [Digo tinha, porque hoje já não sou eu que busco. O facto de ter compreendido a sua forma de amar fez-me deixar de procurá-lo. Hoje é ele que me procura. Acho que sente falta da atenção que eu lhe dedicava. Irónico, não é?].

Escolhi este homem inacessível porque também tinha que lutar para conquistar o seu amor. Ele, assim como o meu pai, também sempre me negou o seu afecto (pelo menos do modo como eu queria). Ele também sempre me negou o envolvimento emocional. Ele fazia (continua a fazer-me) sentir as mesmas emoções que o meu pai me fazia sentir: ansiedade de ser amada, dor pela rejeição.

No fundo, a dinâmica de amor que aprendi com o meu pai é uma dinâmica que me faz amar a dor. É a excitação da conquista que me mobiliza, mas escolho sempre alguém que me rejeitará. Amo a excitação da conquista, amo a dor da rejeição. Contraditório? Eu Sei. Mas é tão real, como é o facto de eu ignorar qualquer homem que se revele interessado em mim. Os homens que me poderiam amar são, para mim, chatos e desinteressantes. Não oferecem a excitação da luta. Não me proporcionam a dor. Não me permitem cumprir o desejo de ganhar o amor que o meu pai sempre me recusou.

Esta confissão é parte do que eu descobri nos últimos 3 ou 4 meses. Existem outras implicações e nuances, nomeadamente, os comportamentos que aprendi com a minha mãe (porque também ela ama um homem inacessível), o modo como isto afectou a minha auto-estima, a maneira como isto influencia a minha relação com os outros, etc, mas isso fica para outro dia.

Acho que, grande parte do problema, já desvendei. Agora tenho é que achar o caminho para o ultrapassar. Tenho que mudar um conjunto de comportamentos e atitudes perante a vida e o amor, mas ainda não sei como. Nesta confissão ainda usei o tempo verbal no presente, nas próximas quero passar a usar o passado.


Quero agradecer à Aragana, pois acho que foi o seu testemunho "Quando se ama...em demasia" (18 Julho, 2006) que me levou a sair um pouco mais da concha.

Se chegaste até aqui, muito obrigadA por me “ouvires”.


P.S.: Noutras alturas teria escrito isto a chorar. Hoje estou serena, calma, em paz. Até me sinto aliviada por ter conseguido escrever isto aqui. Por não ter medo de me expôr. : ) : )

Foto: Freedom by Oh Captain

6 comentários:

Totoia disse...

Força Menina Rabisco...

Beijinho

Luis Carlos disse...

Olá Menina Rabisco,

Não vou comentar o que tu escreveste no teu post.

Eu estou contigo nessa procura de uma vida plena e cheia, um vida em que te sintas una, e não em bocados.

Sinto-me contente por também tu estares a despertar desse pesadelo que é a busca do amor.

Tu és feliz. Tu és amor. Tu és vida.

Repete para ti mesma, estas frases, todos os dias, e tudo o resto vem por arrasto.

Eu estarei por aqui, à distância de mail.

Até já,
Luís Carlos

Anónimo disse...

Eu ia comentarmas não há nada para dizer...

ohcaptain disse...

olá,

antes de mais... bonita foto! ;)

só te ia dizer isto, mas face ao texto que tens neste post n resisto a dizer-te mais umas palavras.

se as achares despropositadas n lhes ligues. Afinal, sao provavelmente opinioes de alguem que nao tem o adequado conhecimento da situação para as emitir.

pode parecer 1 lugar comum... mas na minha opiniao n deves deixar de procurar o que TU buscas. Isso é o que interessa, e sim, existe. N caias no conformismo: isso é terrível. Gosto mto de 1 frase no profile de um contacto meu do flickr: "if you're not sitting on the edge, you're taking too much space".

fica bem
:**

Anónimo disse...

Não partilho do Luis Carlos ao dizer que estás em bocados. Nunca estiveste. A tua angústia é outra.
Se descobriste tudo isto sózinha és uma pessoa com a cabeça no lugar. Se tens tido ajuda, ainda melhor, porque vais continuar até a serenidade fazer parte de todos os minutos da tua vida. Descobrir o que nos afecta tão intensamente dá-nos uma tranquilidade....Não tenhas pressa em mudar, tudo isso vem por arrasto depois de teres consciência de ti. Continua.

Lucas1ºA disse...

Adorei esse texto, me ajudo a copreender!