quinta-feira, novembro 02, 2006

Circunstâncias

"People are always blaming their circumstances for what they are. I don't believe in circumstances. The people who get on in this world are the people who get up and look for the circumstances they want, and, if they can't find them, make them."
George Bernard Shaw, "Mrs. Warren's Profession" (1893) act II


Sou uma destas pessoas que coloca a culpa da sua tristeza nas circunstâncias?

Nunca me considerei uma pessoa passiva. Sempre me vi como uma pessoa lutadora. No entanto, hoje olho para trás e reconheço alguns laivos de passividade. Reconheço momentos em que o medo me impediu de avançar.

Exemplo na área profissional: Lutei imenso para fazer a minha tese de fim de curso. Fui para uma área pouco explorada e isso implicou um trabalho de criação muito grande. No esntanto, escolhi um tema assim porque queria um desafio. Assim foi. Desenvolver a tese foi um processo longo e doloroso, mas no fim tudo valeu a pena porque o meu esforço foi reconhecido. Para além da nota ter sido boa, a minha orientadora pediu-me para fazer um artigo sobre a tese. Nunca o fiz. Acobardei-me. Hoje constato que tive medo de ser avaliada publicamente. Tive medo das críticas. Tive medo que não gostassem de mim.

Exemplo na área amorosa: Lutei durante anos pelo amor de um homem. Permiti-me ser a outra. Permiti-me viver situações de que não me orgulho em nome deste amor. Permiti faltas de respeito. Permiti que não me amassem. Sacrifiquei a minha auto-estima em nome deste amor (ou foi ao contrário: permiti-me viver este amor porque tenho baixa auto-estima??) Criei quase todas as circunstâncias para estar junto deste homem. Apenas não criei uma. Durante anos, nunca disse: "ela ou eu?". Durante anos pensei: "É ele que tem que decidir." Durante anos permiti que as circunstâncias dele comandassem o modo como vivi este amor. Não o encostei à parede porque tive medo de ser rejeitada. Ou melhor, sabia que ia ser rejeitada...e nunca quis aceitar o fim dos meus momentos de amor. Criei as minhas circunstãncias ao fim de 10 anos. Ao fim de 10 anos vivi o FIM.

Hoje, sinto-me estagnada. Sem acção. Sinto-me sem forças para andar. Sem forças para criar novas circunstâncias. Apercebo-me de medos e inseguranças que me barram. Profissionalmente, apenas avanço quando sou "obrigada" a isso.

Na minha profissão actual tenho que tomar decisões todos os dias. Decisões que afectam o trabalho de outros. Decisões que implicam a mudança de hábitos de trabalho adquiridos ao longo de anos. Decisões que, quase sempre, geram resistências. No entanto, a pior parte surge quando tenho que fiscalizar e penalizar as pessoas não cumpridoras. Pessoas a quem já ganhei amizade.

Amo o meu trabalho, mas não gosto desta faceta penalizadora. A amizade que ganhei a quem tenho de penalizar constrange a minha acção. Umas vezes vou arranjando argumentação para derrubar as resistências. Outras vezes fico estagnada. Não ago, nem reago. Finjo não ver certas faltas. Tudo isto porque...tenho medo das críticas. Tenho medo que não gostem de mim. Ainda não consigo separar as águas e estou a comprometer o meu trabalho.

Hoje, por exemplo, a entidade que me tutela "pediu-me" para penalizar os não cumpridores de um modo mais rígido. E eu, que evitei tomar esta decisão antes, vou ter que seguir a onda. Vou render-me às circunstâncias. Eu concordo com esta posição, mas não tive coragem de a tomar antes porque sei que isto vai gerar uma pequena guerra entre mim e as pessoas que coordeno. Resultado, já estou com receio de perder a consideração e respeito que ganhei lentamente. No fundo, tenho medo que deixem de gostar de mim. (Que vergonha! Peço desculpa por tão grande egocentrismo.)

Eu quero ser uma boa profissional, mas não quero esquecer as relações humanas. Infelizmente, estas duas questões estão em conflito (pelo menos dentro de mim).

5 comentários:

Joshua disse...

Deixei um post no meu blog

Joshua: "e bom sabermos que nao somos diferentes dos outros"


Lê creio que te ajudará a respoder a algumas questões, ou pelo menos fará com que penses, espero, que de melhor maneira!

beijinho

Joshua

Pedro Mendonça disse...

sinto o mesmo!
Odeio não ser gostado!
Quando preciso de ser justo com a equipa sinto-me sempre um "vaco", masculino de vaca, que era o que chamava a uma chefe de quem não gostava!
É a vida...
abreijos e força

Anónimo disse...

Boa sorte para conseguires fazer as duas coisas, censurar sem perder a consideração e o respeito daqueles que tens de censurar...
Um beijinho

Tessa disse...

Minha querida.
Como sei o que sentes. Tanto tempo que eu levei a impôr-me. No fundo a respeitar-me e a amar-me e a dar-me ao respeito.
Impôr limites aos outros é uma forma de subirmos o nosso "preço". Dito desta forma até parece, sei lá..O que quero dizer é que quando não admitimos, quando nos impômos, mostramos quem somos. É tão simples!
Mostramos até onde permitimos que o outro vá. Se permitimos que subam por nós até, digamos, aos joelhos e não mais, então o outro sabe que a partir dali é um risco. Mas vai tentando amarinhar. Vamos permitindo...até nos calcarem a cabeça...então somos o capacho.
Tu respeitas o tapete da tua porta de entrada? Nem dás pela existência.
Não existes para o outro quando o outro não encontra limites. Se não existes não és nada...nem respeitada, nem considerada, nem amada.
É verdade que passamos situações na vida que são difíceis mas, quando tomamos consciência e compreendemos, surge também a oportunidade de nos responsabilizarmos e prosseguirmos em frente de cabeça erguida.
É fácil de dizer mas difícil de conseguir. Mas não é nada impossível.
Lembra-te que as grandes revoluções são momentos difíceis mas trazem uma nova luz.
Um beijinho grande.

Desculpa ocupar o teu espaço com tanta conversa...não me contive.

Card Counting disse...

What very good question