sábado, outubro 07, 2006

Aquecer este blog...

O JP escreveu-me a dizer que este blog anda morno. Tens toda a razão!! Eu quero aquecê-lo com as confissões e debate de ideias do costume, mas infelizmente, não tenho tido disponibilidade mental para pensar em mim. Não tenho tido disponbilidade mental para escrever alguma coisa decente. Tenho estado ora contente e feliz, ora stressada, preocupada e angustiada.

Motivo? O novo trabalho.

O novo trabalho tem-me absorvido de uma forma que eu não pensei possível. Ainda não consegui fazer uma barreira entre o tempo e a disponibilidade mental para o trabalho e o tempo e a disponibilidade mental para mim.

Explico porquê:
sou Técnica Superior de Segurança e Higiene no Trabalho e, se não contarmos com o estágio, esta é a minha primeira experiência de trabalho na área. Para além disto, comecei a trabalhar no ramo da construção, que também é um meio novo para mim. A minha inexperiência faz com que, por vezes, me sinta meio perdida nestes novos mundos. Ainda tenho muitas questões a explorar. Ainda tenho que aprofundar alguns conhecimentos, mas estes não são obstáculos difíceis de ultrapassar. Gosto muito do trabalho, não tenho preguiça de trabalhar/estudar e estou motivada para este esforço acrescido. (Daí que passo o dia e o serão a trabalhar...deixando este blog um pouco abandonado...)

A angústia e ansiedade residem noutros elementos deste novo trabalho.
Primeiro, os riscos a que os trabalhadores estão sujeitos. Os piores são o risco de queda em altura e risco de electrocussão.

Em segundo lugar, tenho funções de coordenação e fiscalização da segurança. Ou seja, tenho como principais responsabilidades proteger os trabalhadores dos riscos a que estão sujeitos e desresponsabilizar legalmente o dono de obra (e a mim própria) em caso de acidente. Este trabalho exige a organização de muita papelada, implementação de métodos de trabalho seguros, (in)formação e sensibilização dos trabalhadores para comportamentos seguros e para utilizarem os equipamentos de protecção, etc. Também não é nada que não seja possível fazer, mas é algo que leva tempo. A minha angústia vem desse período de tempo. Enquanto não estiver tudo organizado e implementado continuamos a trabalhar sem conseguirmos proteger completamente os trabalhadores e sem estarmos nós legalmente protegidos.

Receio que aconteça alguma coisa. Não quero ter uma morte às costas porque não tive tempo de organizar tudo. Não quero todos os problemas que podem advir daí, como processos em tribunal, julgamento, coimas e outro tipo de condenações.

Por outro lado, a coordenação e fiscalização também são situações novas. Este trabalho exige de mim comportamentos completamente distintos. Por um lado, tenho de ser exigente e dura, mas diplomática e assertiva quando faço os meus pedidos (exigências) aos empreiteiros Por outro lado, tenho que ser flexível perante a realidade, porque as coisas não mudam de um dia para o outro. No fundo ainda não estou a fazer fiscalização. O meu trabalho agora é mais de sensibilização para conseguir mudanças...e é este trabalho que me dá mais prazer. Julgo que a fiscalização vai ser uma pedra no meu sapato, porque pode gerar penalizações para os subempreiteiros, pessoas com quem eu lido todos os dias, pessoas com quem eu já estabeleci alguma empatia. Receio que a fiscalização (propriamente dita) venha criar resistências à mudança e resistência à minha pessoa. Tenho que ponderar bem o modo como a vou fazer.

A maioria dos dias até acho que tenho jeito para este trabalho, pois já tive algumas conquistas no terreno. Por exemplo, já consegui sensibilizar alguns trabalhadores para um conjunto de situações de perigo e para o uso dos equipamentos de protecção. As pessoas não rejeitam peremptoriamente o que digo. Pelo contrário, têm-me ouvido, não rejeitam as minhas visitas, já vejo resultados do trabalho de sensibilização. Por outro lado, o Dono de Obra também está satisfeito com o trabalho e vamos assinar contrato esta semana.

Noutros dias a falta de alguns conhecimentos mina a minha confiança e surge o medo de errar, de dizer asneiras, de não conseguir sensibilizar os trabalhadores. Mina a minha capacidade de argumentação, de persuação, de mobilização... No fundo tenho medo de ser apanhada em falso. tenho receio de ser descredibilizada, pelos/perante os trabalhadores, por dizer alguma asneira. Eles são quem conhece melhor o seu trabalho e as suas condições de trabalho. São pessoas muito experientes...e eu ainda não sou.

Deste modo, no último mês e meio tenho vivido momentos muito bons de realização pessoal, mas também grandes momentos de angústia pelas responsabilidades associadas a este trabalho: a responsabilidade pela protecção da vida dos trabalhadores, a responsabilidade legal e a responsabilidade de saber coordenar e fazer-me ouvir.

Tudo isto me fez esquecer de mim, me fez abandonar o meu projecto de auto-conhecimento. Ou melhor, estou a explorar outras facetas de mim. Estou a explorar mais as competências psicológicas que tenho que utilizar diariamente no meu trabalho e deixei um pouco de lado os conflitos internos que me motivaram a iniciar este blog. Perante as minhas preocupações actuais, as questões afectivas aparecem minorizadas. Não sei se isto é bom se é mau. Talvez seja mau. Por que se eu recuperar/curar a minha auto-estima, provavelmente, terei mais competências para enfrentar os desafios do trabalho. Por outro lado, tenho receio que este espaço que estou a atribuir ao trabalho sejam uma forma de não me enfrentar, sejam uma forma de não me ver, sejam um modo de me esquecer de mim, sejam uma forma de anular os meus conflitos internos. Será?

Vou fazer um esforço para voltar a pensar em mim. Vou voltar a aquecer este blog.


Foto: Sensuality of fire, by Fubuki


2 comentários:

Anónimo disse...

Menina,
O que importa é que tu estejas feliz. O blog tem tempo

J Pinto disse...

Rabisco(s),

Convido-te a visitar o meu blog e a ler este post (http://morreratrabalhar.blogspot.com/2006/11/as-inseguranas-de-uma-nova-profisso.html). Espero que possa ajudar.