quinta-feira, julho 27, 2006

A História do Meu Grande Amor

Acho que está na altura de contar a história do meu/nosso amor. É uma história de 10 anos com muitas coisas boas, mas também com muita angústia e ansiedade. É uma história comprida e para quem tem paciência para ler. : )

Conheci-o quando entrei para a faculdade. Era uma menina muito só e a sua atenção e amizade foram o suficiente para que me apaixonasse loucamente. Ele namorava. Eu ignorei o facto. Achava que tinha que lutar por ele e pelo meu amor. Da parte dele nunca houveram sentimentos de amor. Houve amizade, companheirismo, desejo. Amor da forma como eu sentia (sinto), nunca houve. Amor da forma como eu queria ser amada, nunca houve (Mas também nunca me foi prometido!).

Envolvemo-nos na clandestinidade. Eu fui aquela a quem costumam chamar a outra. Encarnei este papel, em diferentes períodos, durante os primeiros quatro anos do nosso relacionamento. Havia alturas em que estávamos juntos e viviamos coisas nuito boas, mas também coisas muito más. Quando eu não aguentava o sofrimento e a ansiedade, causada pelo facto de ele não me assumir, causada pelo o facto de ele não me amar, afastava-me. Afastava-me no sentido de não haver envolvimento físico. De resto mantive-me ao seu lado como sua “amiga”.

Segundo ele, tornei-me a sua “melhor amiga” [há dias em que detesto estas palavras!], “ a pessoa que mais o conhece”. Provavelmente sou. Conhecê-lo é difícil, e eu devo ter sido uma das poucas pessoas que se deu ao trabalho ou que não me cansei a meio do caminho! Afinal, eu estava a lutar pelo meu amor! Acho que me mantive sempre ao seu lado, porque, no fundo, queria que aquela situação se invertesse. Porque achava que ele ainda poderia vir a gostar de mim de outra forma. Porque achava que poderia fazer com que ele me amasse. Porque achava que poderia conquistar o seu amor.

Isso não aconteceu e, depois de muitas idas e vindas, afastei-o de mim. Disse-lhe que não o queria ver. E, como tínhamos um grupo de amigos comum, disse-lhe “Quando vieres sair, avisas algum deles, que eu fico em casa!” (Lol) Ele não disse NADA! Sinceramente, ainda hoje não sei o que ele pensou naquele momento. E assim foi. Estivemos dois anos sem nos ver.

No início foi complicado. Quebrei um conjunto de rotinas e encontrar novas foi difícil. Mas depois veio a calma e algum crescimento pessoal. Estes dois anos coincidiram com o fim do curso e eu necessitava dessa calma, para terminá-lo em beleza. Foram dois anos sem a ansiedade do está…não está…está…não está. Foi de tal maneira bom que eu pensei que estava CURADA. Naquela altura, quando pensava isto, significava que já não gostava dele. [Agora apenas utilizarei a palavra curada quando deixar de escolher pessoas emocionalmente inacessíveis] Cumpri naqueles dois anos o ditado “Longe dos olhos, Longe do coração”.

Até que um dia em que ele quis falar comigo. Julgando-me curada e com saudades da amizade (eu, na altura, achava que voltava apenas para a amizade!), acedi.

Pediu-me desculpa! Na altura achei que aquelas palavras faziam sentido. Afinal, ele apesar de não gostar de mim, tinha permitido (querido) o envolvimento. Hoje acho que a culpa não foi só dele. Eu também tenho culpas no cartório. Fui eu que permiti esta situação. Fui eu que escolhi um homem emocionalmente inacessível.

Eu aceitei as desculpas e retomámos a amizade. Foi impressionante a forma como o à vontade das conversas voltou exactamente ao ponto onde tinha ficado. O afastamento não afectou nada disso. Sinceramente, acho que o afastamento não eliminou nada da nossa relação. Nada.

Começámos a sair como amigos. Pouco tempo depois tive o primeiro aviso de que não estava curada (mas ignorei-o!). Ele estava sozinho quando nos voltámos a ver. Meses mais tarde começou a namorar. Tive uns ciúmes desgraçados, mas optei por ignorá-los. Fomos amigos, estando eu convencida de que gostava dele apenas como amigo, durante mais…(cerca de) 3 anos, ou seja, até ao início deste ano. Durante este período conhecemo-nos ainda mais. Conhecemo-nos já como adultos. Conhecemos a seriedade e os problemas de adultos. Conhecemo-nos com mais maturidade. A nossa intimidade aumentou de uma forma absurda. Por isso é que ele diz, para quem quiser ouvir [excepto para a namorada! : ) : )], que eu sou a pessoa que melhor o conheço.

Esta intimidade, aproximou-nos. O facto de sempre nos termos entendido muito bem na cama, tentou-nos. Um dia cedemos à tentação. E, apesar da minha promessa, de que o lado emocional iria ficar de fora (a parva aqui pensava que conseguia separar as águas. Labrega!!), voltei a amar. No entanto, também voltei a ser a outra. Apesar de tudo, não me arrependo porque vivi momento muito bons. : ) : ) Foram os nossos momentos de maior intimidade, quer física, quer emocional. A minha entrega emocional foi maior, mas desta vez para ele não foi indiferente.

O meu sofrimento voltou quando a namorada dele (que morava longe), avisa que arranjou um emprego aqui perto e que vem viver com ele. Da parte dele, apesar de não querer que ela viesse para cá, apesar de estar infeliz com a situação, apesar de não gostar da rapariga, também não a impediu de vir para cá. Nisso eu culpo-o! A 100%! Não teve coragem para dizer que não queria aquilo! Como tal, continuam a viver juntos. Entretanto, afastou-se de mim. Eu sabia que tinha que me afastar, mas ainda não estava preparada para o fazer.

Um mês depois, num fim-de-semana em que estava sozinho, reivindiquei o meu espaço de amiga. É claro que eu queria outro espaço, mas a conversa foi a de amiga (lol) Recriminei-o pelo afastamento. Disse-lhe: “Não existe razão para não sermos amigos! Não existe razão para não termos o nosso espaço para conversarmos.” Hipócrita! Mentia-lhe a ele e mentia-me a mim própria. Eu continuava a querer que ele percebesse o erro. : )

Nessa sexta-feira voltámos a estar juntos. Da forma mais íntima que alguma vez estivemos, mas eu prometi que não voltaria a estar com ele, enquanto ele estivesse junto. E assegurei-me de que essa promessa iria ser cumprida. No dia seguinte tivemos um jantar na casa de um amigo comum. Um amigo que, havia algum tempo, se insinuava e de quem eu gosto muito (como amigo!). Durante essa noite permiti que o meu amigo me beija-se…e, pela primeira vez em 10 anos, vi o Meu Grande Amor com uma crise de ciúmes. Nunca pensei. Sinceramente, não estava à espera. Apenas deixei que o outro me beijasse para garantir a distância entre mim e ele…e, talvez, se possível, seguir outro caminho.

Numa conversa, no dia seguinte, ele culpabilizou-me pelo que eu tinha feito e fez-me sentir necessidade de pedir desculpa. Disse-me no espaço de uma hora coisas que eu já não tinha esperança de ouvir, como: “o que vivemos na sexta-feira foi muito bom e não gostei de te ver com outro. Nunca senti isto. Não sei o que é isto, mas acho que não podemos perder o que sentimos.” Foi aqui que eu comecei a achar que afinal tinha valido a pena. Puro engano! Perante a situação de ter que enfrentar a namorada com quem vive, perante a situação de ter que enfrentar os pais, amigos, família, perante a situação de ter que saber exactamente o que sente e o que quer, voltou atrás! Foi aí que ele me disse: “É melhor seguires o teu caminho, que eu vou seguir o meu!” Vivi um dos meus sonhos durante minutos!

Naquela altura atribui a situação às ironias da vida. “Agora que ele está a viver com outra pessoa…é que havia a remota hipótese de gostar de mim?!?!” Mas a situação não se deve a ironias da vida. Deve-se a opções que ele tomou. Ele não optou por mim. Optou por se manter sossegado. Optou por não causar tempestades na sua vida. Optou por não se envolver emocionalmente, porque internamente ainda tem muitos assuntos por resolver. Não estou a desculpar. Estou a tentar compreender.

Hoje estamos afastados. Vemo-nos quando estamos com amigos comuns e mal nos falamos. Ainda não consigo pensar nisto como uma coisa boa! Isto ainda me deixa muito triste!

Toda esta situação me deixou de rastos e dor fez-me sentir a necessidade de me conhecer e compreender porque é que eu o escolhi a ele? Não posso recorrer aos psis, mas estou a ler um livro que me está a ajudar. Estou a lê-lo e a analisá-lo reflexivamente, tendo em conta a minha realidade. Já descobri porque é que escolhi o Migo (é como eu o trato!)…

Os mais distraídos dirão que “é o amor! O coração não escolhe de quem gosta.” Eu também acreditava nisto. Hoje acredito que o amor pode ser imenso e verdadeiro, mas a pessoa a quem o damos somos nós que a escolhemos. Somos nós que a escolhemos, tendo por base as nossas vivências. Procuramos comportamentos que nos sejam familiares. Eu escolhi o Migo porque ele é emocionalmente inacessível como o meu pai, porque com ele repito os comportamentos que tenho/tinha com o meu pai. Mas essa história já explorei noutro(s) post(s).

A história que contei aqui hoje é a nossa história factual. Falta-lhe alguma riqueza de sentimentos. Falta nela compreender-se. Falta nela a compreensão das opções tomadas. Falta nela grande parte das nossas histórias individuais, que influenciaram as nossas opções. É a essa compreensão que eu estou a tentar chegar.

É possível que se perguntem, se eu nos momentos em que não estive com ele, não conheci outras pessoas? Conheci. A maioria não deixei que se aproximassem. Não me deixei envolver. Infelizmente, não estava emocionalmente disponível para outra pessoas. Hoje, já não os afasto logo, já permito uma conversa ou duas. : )

Estou orgulhosa de mim! Vocês são os primeiros a saber a história toda. : )

7 comentários:

Luis Carlos disse...

Menina,

É só para te dizer que li o teu testemunho de vida, e que o acolhi no meu coração.

Fica em Paz,
Luís Carlos

Anónimo disse...

Obrigada por partilhares algo tão íntimo com todos nós.

É uma história sempre a repetir-se, não é?
Percebi mal, ou voltam a namorar sempre que ele tem alguém?
Mas quem é este homem que não consegue ter apenas uma relação ?
Parece-me uma forma de não se comprometer. E o seu percurso na vida dá a ideia de ser de uma passividade e de uma incapacidade de tomar decisões!!!!
Porque dizes que não podes recorrer aos psis?

Anónimo disse...

Isso do «amorrrrrr» serve é para vender peluches.

Quecas e «segurança» é o que se procura e (ou não) consegue.

Viver a vida, viver a vida...

redonda disse...

Tantas histórias que não acabam bem... achei incrível como foste capaz de contar a tua e do fundo do coração desejo que vivas outra mas feliz.

aNa disse...

"Não há nada no mundo, nem recompensa, nem castigo, o que há são consequências"
Ingersoll, Robert

esta é a citação que tens hoje no teu blog. e que se for devidamente interiorizada, poupa-nos imenso tempo, porque não andamos à procura de culpados ou vitoriosos.
cada um de nós só é responsável pelos seus actos. olhá-los de frente e perceber porque é que os fizémos, é meio caminho andado para crescermos.
só mais uma coisa - ler livros de auto-ajuda, psicologia, etc, etc, não é a mesma coisa do que fazer terapia. mas, pode ajudar em determinadas alturas.
be strong!

Menina Rabisco disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Menina Rabisco disse...

Quero agradecer a todos a visita e o comentário.

VHS: essa é a tua opinião. Eu respeito-a, mas isso para mim não chega. Eu tenho que ter amor, quecas e "segurança", porque é o amor que dá piada e conteúdo às quecas e à "segurança". Quanto a viver a vida...estou a vivê-la em toda a sua plenitude, em todas as suas múltiplas vertentes. :)

Redonda: Obrigada pelo teu desejo. :)

Ana: Obrigada pelo teu comentário. Concordo que tudo sejam consequências, mas penso que nem tudo é consequência apenas dos nossos actos. Todos agimos de determinada maneira, devido às nossas experiências / vivências, devido aos actos que os outros tiveram para conosco. Não estou com isto a querer encontrar culpados. Estou a tentar compreender o porquê das minhas acções, para poder perdoar, para deixar de sentir mágoa, para poder escolher outra forma de agir, para poder viver outras consequências. :)
Quanto à terapia, concordo contigo e gostaria muito de a fazer. Infelizmente, monetariamente ainda não é viável.
Obrigada pela força! Volta sempre.